A próxima sessão do C&P de Ribeirão Preto acontecerá no dia 17 de agosto, às 20h. Nosso encontro on-line será pela plataforma Zoom.
Estaremos juntos com a colega Luciana Marchetti Torrano, membro associado da SBPRP, que comentará sobre o filme “O Tigre Branco”, do diretor Ramin Bahrani.
*Lembramos que o filme não será exibido, devendo ser assistido previamente. Disponível na Netflix.
Em caso de dúvidas, entre em contato pelo e-mail: sbprp.eventos@gmail.com
Evento on-line gratuito. Inscreva-se! Vagas limitadas:
https://sbprp.org.br/eventos/events/cep-otigrebranco/

O Tigre Branco made in Índia
Por Luciana Marchetti Torrano
O Tigre Branco filme indiano dirigido por Ramin Bahrani, baseado no romance homônimo de Aravind Adiga, relata a vida de Balram, o protagonista e narrador de sua própria biografia, recortada desde sua infância pobre, no vilarejo onde nasceu, cercado pelas regras comuns aos indianos de castas baixas. O filme inicia quando o protagonista escreve um e-mail ao primeiro-ministro chines, que visitará o país em breve. Balram conta a história da Índia contemporânea iniciando pelo viés da economia e vai aprofundando suas críticas sociais e históricas. Balram utiliza a analogia do galinheiro para descrever a forma de servidão e por vezes a escravidão as quais os indianos se submetem por considerarem-se e serem considerados inferiores, inseridos num sistema rígido de castas no qual a única alternativa para a ascensão para posições e ocupações mais elevadas seria a reencarnação. A vida de um indivíduo de uma casta inferior vale pouco e seu fim, a morte, abrirá portas para uma oportunidade na próxima vida, mas para tanto ele precisa corresponder às expectativas exigidas e cumprir sua missão. Quem sabe ele nasce numa casta superior ou até mesmo um Brâmane e receberá a riqueza o luxo e os serviços que um dia ele ofereceu?
A doutrina das castas é uma estratificação dogmática abrigada pela lei. Estima-se que foi criada com a invasão do povo arya, vindo do Leste Europeu por volta do ano 5000 AEM. O Hinduísmo é provavelmente o resultado de um conflito bélico entre o povo que habitava a Índia naquele período os dasyus que foram derrotados e dos vitoriosos colonizadores: o povo arya. A doutrina hindu colabora para que o galinheiro funcione e continue gerando desigualdades sociais e estratificações provocadas por dogmatismos religiosos. Historiadores apontam identidades importantes entre as castas na Índia e as relações sociais que já existiam na Europa desde as primeiras colonizações no país.
Em sânscrito, língua sagrada, a palavra casta significa cor e as cores mais escuras compõem as castas mais baixas. Uma das divisões das castas seria a origem de cada indivíduo do Deus Purusha, os brâmanes (casta superior) seriam originários da boca ou da cabeça do deus, os guerreiros e políticos do tronco ou dos braços, os operários viriam das pernas e os artesãos, carpinteiros, cozinheiros, lixeiros, oleiros viriam dos pés. As castas criadas com base em classificações como a raça, a cultura, a profissão, a religião se mantêm transgracionalmente e trasculturalmente repetindo um sintoma de uma patologia social em geral romantizado pelos ocidentais. A rigidez do sintoma social e a impossibilidade de serem pensados, questionados e transformados delineia uma cultura que os repete há milhares de anos.
Balram, o protagonista, relata a relação próxima, inicialmente idealizada com seus patrões sobretudo com o casal Pinky e Ashok recém-chegados dos Estados Unidos que demonstram modernidade e crítica ao sistema social indiano. Especialmente Pinky, feminista e progressista, que aparentemente não descende de uma casta superior como seu marido Ashok, aponta a humilhação e os abusos sofridos por Balram, em contrapartida o casal vive cercado de criados e luxos proporcionados pela exploração resultante da submissão de povos e vilarejos como aquele onde nasceu o ambicioso motorista Balram.
Balram que quando pequeno recebeu o título de Tigre Branco, por ser um bom aluno e ser capaz de ler e falar inglês, o idioma do colonizador. O Tigre Branco animal raro e único em uma geração inteira de tigres banais, Balram se orgulha de sua capacidade e seu esforço e tenta ensinar ao pai algumas palavras em inglês que são justamente as partes superiores do corpo humano, de onde se originam os brâmanes. Mesmo impossibilitado de continuar os estudos, sem apoio familiar, Balram não desiste de criar formas e cumprir sua missão de ser o Tigre Branco. O tempo passa e os ensinamentos da vida que ele vai recebendo quebrando carvão e servindo chá na loja da família, consistem em criar estratégias para resistir e sair do galinheiro. Balram quer escapar do fim que ele acredita que terá desde que vivenciou a morte de seu pai.
A reviravolta ocorre num momento que em sua trajetória Balram, já humilhado e ameaçado decide libertar-se e quebra com as regras divinas, familiares e sociais, rompendo também com o milenar Código de Manu, cometendo os dois crimes mais graves que um hindu pode cometer. Balram torna-se o tigre branco e abandona o vilarejo, a família, a casta, o galinheiro.
O filme é um estímulo para refletirmos sobre as Índias que existem pelo mundo, no Brasil e nos países que sofrem com estruturas racistas, machistas, escravocratas, repletas de perversões e desigualdades. Quantos Balrams existem dentro de nós? Quantos Ashoks e Pinkys? Quantos galinheiros conhecemos?
Algumas críticas do filme, apontam semelhanças com grandes sucessos atuais do cinema como o sul-coreano Parasita, o estadunidense Coringa e o brasileiro Bacurau, todos de 2019. Eu os convido a embarcar nesta viagem pela história e cultura da Índia com o filme O Tigre Branco e aproveitamos a riqueza da psicanálise social para debatermos um tema atual e relevante.
Para referências de literatura entrar em contato com a autora.
6 de agosto de 2021 at 20:41
Vcs aceita uma dica?🤗🤗🤗 Se possível agenda à trasmiçao no fim de semana!🤗🤗🤗 Depois das 18hs!Enviado do meu smartphone Samsung Galaxy.
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6 de agosto de 2021 at 20:49
Qual é o endereço eletrônico dessa plataforma zoom???Enviado do meu smartphone Samsung Galaxy.
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9 de agosto de 2021 at 14:48
Boa tarde, tudo bem? Agradecemos a dica! Para dúvidas e mais informações, por favor, entre em contato pelo e-mail: sbprp.eventos@gmail.com
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