Nesta quarta-feira, dia 18, será realizado o Semeando a Psicanálise em Franca. Ana Cláudia G. Ribeiro de Almeida, membro associado da SBPRP, irá falar sobre o tema “Intimidade: o que é isso em psicanálise?”.
Leia abaixo o comentário da psicanalista sobre o assunto:
Intimidade: Afinal o que é isso em Psicanálise?
Intimidade, mesmo não sendo um conceito específico da psicanálise, sem constar de dicionários ou vocabulários psicanalíticos, apresenta-se como tema de investigação e reflexão entre nós e entre psicanalistas do mundo todo já que foi o tema do 50º Encontro da IPA- International Psychoanalytical Association (Associação Psicanalítica Internacional que congrega Sociedades de Psicanálise de diversos países) realizado na Argentina em julho deste ano.
Como um termo, aparentemente, banal e de uso corrente em diversas situações, estando presente de alguma forma em qualquer atividade e relacionamento humano, vem ocupar o centro das nossas atenções e alcançar alguma especificidade em psicanálise?
No dicionário Houaiss da Língua Portuguesa encontramos que intimidade é qualidade do que é mais íntimo e profundo (…) relação muito próxima… Intimidade diz respeito ao que é mais íntimo e profundo e a definição de íntimo segundo o mesmo dicionário é âmago; alma; que constitui a essência de algo; que existe no âmago de alguém…
Aqui já se descortina o que tem muito a ver com a psicanálise, a busca e o encontro com o que há de mais profundo, íntimo e reservado de uma pessoa. Um termo não psicanalítico que praticamente poderia definir Psicanálise.
Freud ao nos apresentar o inconsciente e a teoria da sexualidade lançou as bases fundantes da psicanálise e nos comprometeu como psicanalistas, de forma irreversível, com um trabalho que se dá na intimidade e somente em intimidade consigo mesmo e com o outro. Melanie Klein com seu mergulho no mundo interno segue adiante na constituição do que poderíamos chamar intimidade em Psicanálise e Bion ao propor as Transformações em O, radicaliza o movimento em direção ao essencial de si mesmo. Meltzer, Winnicott e Ogden, seguem na ampliação do nosso campo de conhecimento e considerando a relação com o outro, a partir de vértices diferentes, lembram que o íntimo pessoal, original de cada um apenas se constitui a partir da experiência de intimidade com o outro, como uma experiência co-criada.
Em nossas experiências universalmente humanas, somos todos concebidos num ato íntimo de um casal, nos constituímos na interioridade/intimidade do corpo de uma mulher e nos desenvolvemos sendo alimentados, tocados e cuidados intimamente por alguém. A partir destas relações primeiras aprendemos e apreendemos o que conhecemos de nós mesmo e de nossa forma pessoal de nos relacionarmos com o mundo e com os outros.
Proponho para nosso encontro um percurso compartilhado, no trânsito íntimo<>intimidade a partir de referenciais psicanalíticos, mas também de referenciais da cultura e da arte. Como num mosaico de espelhos que poderia se compor do Espelho do Mito de Narciso, de “O Espelho” conto de João Guimarães Rosa, chegando ao “Black Mirror” da série Netflix, poderemos conversar percorrendo as possibilidades de constituição ou não do íntimo e da intimidade nas suas diversas formas, e em especial em Psicanálise. Até lá!
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