No último sábado, dia 21, foi realizado em Franca o Cinema e Psicanálise, com o filme O Lado Bom da Vida. Leia abaixo o comentário da palestrante Beatriz Busatto:

A ideia de comentar o filme O Lado Bom da Vida, de David Russell, surgiu num momento em que eu estava pensando sobre alguns tipos de complicações nas relações familiares. Estava imaginando uma situação em que, digamos, a semente não consegue cair muito longe do pé, conforme o antigo ditado. Estava eu a meditar sobre situações familiares em que os filhos não conseguem se diferenciar dos pais, não conseguem trabalhar, ter relações amorosas estáveis, ter amizades. Contribuir com o desenvolvimento dos filhos é um caminho que muitas vezes passa por frustrações, por abster-se de abastecê-los em excesso, em conseguir deixá-los ir, deixá-los separar-se. Imersa nesses assuntos tão presentes no dia a dia de qualquer pai e mãe, assisti, por acaso, esse filme. E vi ali uma figuração do que estava em minha mente. Uma oportunidade de formular melhor minhas reflexões!
O Lado Bom da Vida é de 2012 e assim como outros filmes do diretor, contempla um tema que é o da superação da dor e dos problemas. Russell costuma apontar esses caminhos apoiando-se no esporte e na arte, como vocês poderão ver. Nessa obra isso se expressa pela dança.
Apesar de não se tratar de um filme “cult”, O Lado Bom da Vida me agradou pelo amplo leque de aspectos que podemos abordar. Ainda que retrate as doenças psiquiátricas mais graves, com suas interações, medicações e psiquiatras/psicoterapeutas de uma maneira um tanto fantasiosa ou mesmo caricata, tem um viés jovem e bem humorado, que favorece o pensar sobre situações relativas ao adoecer psíquico. O filme provoca no espectador uma esperança: nos leva a imaginar maneiras de se conviver com o movimento de estruturar ↔ desestruturar. Movimentos que são da mente humana, das relações e dos grupos humanos, como a família.
O título em inglês desse filme é Silver Lining Playbook, e a expressão silver lining aparece em toda a narrativa, em vários diálogos. O que quer dizer essa expressão? Sua tradução para o Português diz: em todo problema, por maior que seja, existe um lado bom. Algumas vezes a expressão é usada nas conversas do filme para dizer que existe uma meta a ser alcançada. E que ao encontrá-la, tudo ficaria ótimo.
Já playbook significa manual. Então o título desse filme quer dizer mais ou menos o seguinte: manual para se encontrar o lado bom das coisas. Mas, como todos sabemos, nada é assim tão automático. Há que se empregar uma grande dose de trabalho psíquico para conviver com dores e conseguir alcançar algo bom a partir daquilo que é triste, trágico ou repleto de perdas.
Creio que nosso filme fala desses caminhos que cada pessoa vai construindo, na verdade, sem nenhum manual. Temos somente um roteiro, que se escreve no exato momento em que o vivemos. Cada indivíduo se vale apenas de suas riquezas internas, algumas delas sentidas como inéditas. A própria pessoa não sabe que as possui, até o momento em que algo sério acontece.
A criação de uma nova coreografia de vida, buscando uma identidade própria mas observando outros dançarinos, aceitando sugestões dos amigos, tendo algum suporte familiar amoroso, foi o mote de nossa discussão no último sábado.
Deixe um comentário