No mês de agosto, o C&P de Franca apresentou o filme “Babel”, com comentários de Fátima Maria Cassis Ribeiro Santos, membro associado da SBPRP.
Leia abaixo uma resenha que Fátima escreveu sobre o filme, com algumas questões abordadas em sua apresentação:
Babel
Dirigido pelo mexicano Alejandro Gonzáles Iñárritu e escrito por Guillermo Arriaga, este belíssimo filme foi indicado e ganhador de muitos prêmios, levando Oscar de melhor trilha sonora em 2007.
Com cenas não lineares, histórias cruzadas, cujos personagens vivem acontecimentos trágicos e interdependentes, Babel nos convida a passear pelos labirintos da alma humana, permeada por vida e morte, encontros e desencontros, amor e perdão.
Filmado em três continentes, quatro países e falado em quatro idiomas diferentes, Alejandro Iñárritu faz referência clara ao mito bíblico de Babel, cuja história consiste em quando os seres humanos falavam uma só língua e se comunicavam perfeitamente bem. Quiseram construir uma torre para chegar aos céus, tendo como objetivo serem onipotentes, como sugere a expressão “a Deus tudo é possível” mas este, irritado com tal atitude, misturou as línguas dos homens, confundindo-os, causando discórdia, ódio e medo, e o projeto da torre foi parado.
A complexa história do filme inicia com crianças marroquinas, em posse de arma cuja finalidade é matar lobos para proteger cabras que pastoreiam, não conhecem o poder letal que têm nas mãos. Duvidando de sua potência, tentam mirar um ônibus que está no horizonte. O tiro fere uma turista americana, Susan, que está com o marido Richard excursionando pelo país. O casal, tentando se recuperar da perda do filho caçula, busca também um espaço para cuidar de sua combalida relação afetiva. A arma doada a um guia marroquino pelo empresário japonês Yasujiro Wataya em sua viagem ao Marrocos, transporta-nos para Tokyo, onde conhecemos Chieko, filha de Yasujiro, vivendo seu drama familiar e adolescente. Temos ainda um evento quase trágico envolvendo os filhos deste casal de americanos que permaneceram nos Estados Unidos, sob cuidados de sua babá mexicana, Amélia.
Babel se inscreve na história cinematográfica, junto a “Amores brutos” e “21 gramas” como a trilogia da morte ou da perda, como consideram alguns, mas é a ideia de confusão e a consciência de vivermos um fino equilíbrio, com o chamado “efeito borboleta” dentro da Teoria do Caos que Alejandro Iñárritu, em entrevista, quis enfatizar. Resumidamente, o efeito borboleta consistiria no fato de que o bater de asas de uma simples borboleta, em condições iniciais, poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.
Se de um vértice desta película encontramos a história mítica de desencontros, terror e desamparo, sob outro aspecto, podemos perceber o quão belo pode ser um encontro humano, desvelando nossas semelhanças, mostrando que a dor é universal, independente de diferenças de raças, línguas e culturas. A busca de uma linguagem, seja ela verbal ou pré-verbal que dê conta de significar nossas experiências afetivas e construir com o outro uma maneira mais intimista de viver e a capacidade humana de transpor rupturas é a grande mensagem latente que, penso, está contida no filme.
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