por Denise Zanin, membro filiado da SBPRP
Depois da busca por ser familiar, tornar-se estranho. Entranhar-se, descobrir novas formas de ser. Pertencer a nada. Do contato que urge por existir (é mais tarde do que supõe!), ao que inspira o imprudentemente poético Valter Hugo Mãe.
O silêncio, por exemplo, uma imprudência. Deixar acontecer, não tentar intervir. Abrir mão do tormento de capturar o que nunca se tem. O que tiver que vir, vem.
Também pode ser um modo de diminuir. Diminuir, diminuir tanto até chegar ao essencial – o ponto mais concentrado, cerne do ser. Então tornar-se infinito. Infinito também mora dentro, é um universo em nós: céu estrelado. Olhar para dentro é ver para sempre, é ficar sábio, com o mais preciso dos registros, o registro do coração.
O avesso do silêncio: a palavra? Nem sempre. Há palavra carcereira, há palavra de des-dizer. Palavras prudentemente im-poéticas. Fronteira e ponte, no efêmero e eterno instante. A palavra, como a vida, uma arte.
Amigar-se da fera no escuro do poço. Ao invés de um confortável entorpecimento, ter uma febre. Pegar o rato com as mãos. Amar. Estar presente, o mais que puder, em cada instante. O efêmero e eterno, do qual, uma vez, peguei um vislumbre. Como uma febre, mansa, no cantinho do olho. Tornar-se Clarice e, na descoberta do mundo, perdoar Deus.
É, a vida é mesmo algo muito estranho. Acolher a vida é algo estranhamente poético.

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