No dia 14 de maio, será realizado o próximo Terças na Sociedade, com o tema: “Trans: limites trans-postos para fora e para dentro da dupla analítica”. Os comentários serão de Sandra Luiza Nunes Caseiro, membro efetivo da SBPRP.

> Inscreva-se pelo site: https://www.sbprp.org.br/site/eventos_show.php?id=67

Ernst Cassirer[1] coloca que a verdadeira diferença entre línguas não é de sons ou sinais, mas de perspectiva de mundo. Aprender uma nova língua é contemplar novos vértices e fenômenos. O Português é uma língua, assim como a matemática, a música, a física, etc. Todas são frutos do esforço constante da mente humana para descobrir e expressar o mundo através de diferentes linguagens. A psicanálise também é uma língua e possui sua própria perspectiva através da qual o psicanalista vislumbra o mundo, a vida, o indivíduo, a dupla analítica.

Imaginemos um analisando relatando o sonho:

Eu estava numa sala estranha e ao abrir a porta me deparei com uma espécie de pasto e uma manada disparada de búfalos vinha em minha direção. Eu tentava fechar a porta e não conseguia, e a manada cada vez mais próxima… e a porta não trancava… E a manada cada vez mais próxima… Então… acordei.

Nos idos de 1900, o psicanalista tomava o conteúdo manifesto do sonho para alcançar o conteúdo latente. O sonho é a via régia para o inconsciente, afirma Freud[2]. E hoje? Deixou de ser?

O prefixo latino trans abarca a ideia de movimento: além de, para além de, através, travessia, deslocamento. A psicanálise, inicialmente compreendida como uma disciplina que abarcava algumas patologias mentais, a partir do livro sobre os Sonhos, Freud trans-põe a fronteira entre o normal e o patológico e a trans-forma na disciplina que estuda a mente. Ao observarmos a psicanálise desde seu início até nossos dias, quais fronteiras essa ciência atravessou em relação a seu ponto de origem?

Paul Klee,  “Fronteira”, de 1938[3]

Assentávamos em solo firme com a física clássica como modelo de todas as ciências. À medida que este conhecimento se expandiu para a microfísica e a macrofísica, as amarras do nosso firme solo mediano se desfizeram e nos descobrimos sobre um tapete voador[4]. Quanto mais forçávamos a separação destas incômodas extremidades, apenas repetíamos a parábola do homem que queria separar as duas extremidades de um bastão e ao cortá-lo compulsivamente, surpreendia-se com a multiplicação de bastões, cada um com suas duas extremidades.[5]

Após as expansões desenvolvidas por Bion, colocando analista e analisando dentro do mesmo espectro/bastão parte psicótica ↔ parte não psicótica da personalidade e dentro do mesmo campo analítico/bastão, como podemos apreender o analista, o analisando e a técnica psicanalítica? Por exemplo, é comum, ao nos referirmos ao mito de Édipo, pensarmos num terceiro excluído. O que vem a ser a lógica do terceiro incluído?

No nosso encontro nos movimentaremos por essas ideias.

Até lá!

Sandra Luiza Nunes Caseiro,

Psicanalista membro efetivo da SBPRP

[1] Cassirer, E. (1994) Ensaio sobre o Homem. São Paulo> Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1944)

[2] Freud, S. (1976). A interpretação dos sonhos. In: Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. IV e V. (Trabalho original publicado em 1900).

[3] https://cdn-istoe-ssl.akamaized.net/wp-content/uploads/sites/14/2019/02/22-2.jpg

[4] Morin, E. (2011). Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina. (Trabalho original publicado em 2005).

[5] Basarab, N. (1999). O manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: Trion. (Trabalho original publicado em 1994).