Na próxima terça-feira, dia 02 de julho, será realizado mais um Terças na Sociedade, desta vez com o tema “FALSO-SELF: da clínica ao cotidiano”. Os comentários serão de Denise Lopes Rosado Antônio, membro efetivo da SBPRP. Leia abaixo seu comentário sobre o assunto e participe conosco!

FALSO-SELF: da clínica ao cotidiano 

Atualmente, temos sido procurados em nossos consultórios, numa frequência relativamente alta, por pessoas que apresentam queixas relacionadas a dificuldades de manter um relacionamento estável, falta de sentido na vida, sensação de vazio e futilidade. Estas queixas, muitas vezes, vêm acompanhadas de sentimentos de estar sendo um engodo, um embuste, com autoestima bastante instável. Esses pacientes nos contam que até se saem bem intelectualmente ao ter sucesso profissional, porém o seu sentimento é de ter que realizar, constantemente, um grande esforço para manter essa aparência, deixando-os sem energia e cansados por terem que representar. Sentem-se distantes de sua própria realidade, como se estivessem assistindo a própria vida ao invés de vivê-la. Sentem-se incapazes de aprender com a experiência.

Donald Winnicott, psicanalista inglês, por ter sido um psicanalista predominantemente clínico, ao analisar pacientes adultos, pode observar a existência de um verdadeiro self (espontâneo e criativo) e de um falso self (defensivo e submisso), postulando que há em todos nós uma verdadeira personalidade e uma falsa. Há gradações do fenômeno falso-self desde aquele em que o falso-self se implanta como real, até aquele em que o falso-self é representado por atitudes sociais polidas e amáveis.

Winnicott também se referiu aos sentimentos de futilidade e irrealidades nos falso-selves, resultado de uma leve percepção, por parte das pessoas, da ausência ou pequenez de seu self verdadeiro, levando a se sentirem irreais. Geralmente, são essas pessoas que buscam a análise.

Como estímulo para a nossa conversa sobre verdadeiro e falso self, usarei um dos episódios da quinta temporada de Black Mirror (Netflix) denominado “Rachel, Jack e Ashley Too”. (alerta de spoiller!)

Ashley é uma popstar que tem sua imagem e visual controlados pela tia; ela se sente presa, desesperada e quer fugir dessa situação. Ela é criativa em seus sonhos. Escreve a melodia e a letra de suas composições logo após acordar. No ápice de seu estado claramente entristecido, pela situação em que vive, escreve a seguinte música: “Você é o animal na jaula que construiu? Tem certeza do lado em que está? Sente o vazio dentro do seu coração? Tudo exatamente onde deveria estar? Se olhar para o seu reflexo, é tudo que você queria ser? Se pudesse olhar através das rachaduras, você teria medo de ver?”.

Ela diz para a tia que não está deprimida, que é só um fluxo de consciência. Porém, afirma: “Parece que estou usando a pele de outra pessoa”.  Ashley quer assumir sua verdadeira personalidade, mas é impedida pela tia. Segue o episódio, em que uma boneca Ashley Too é construída com inteligência artificial, nos moldes da personalidade falsa de Ashley, dirigida a pessoas inseguras e solitárias. Uma de suas fãs, que adquire a boneca, experimentava um outro grau de falso-self. O desfecho do episódio se dá com a reação surpreendente da boneca, quando o núcleo “falso-self” é extraído de sua “mente artificial”.

O exemplo acima difere daquele em que as pessoas se apresentam com grande capacidade de se adaptar, conciliar e agradar. Geralmente, são pessoas hiperadaptadas à realidade, pragmáticas e com bom desenvolvimento intelectual. Diríamos que são pessoas com falsos-selves bem sucedidos.

Convido a todos para conversarmos sobre esse tema no dia 02 de julho. Até lá!

Denise Lopes Rosado Antônio – Membro Efetivo da SBPRP