No dia 12 de novembro será realizado o próximo Terças na Sociedade. Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro irá comentar o tema “As comunicações psicanalíticas: intervenção – interpretação”.

As comunicações psicanalíticas:

Intervenção – interpretação

Paulo de Moraes M. Ribeiro, Membro Efetivo da SBPSP e Membro Efetivo com Funções Didáticas da SBPRP

O genial escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) proferiu uma série de conferências em Harvard (EUA) nos anos de 1967 e 68, que resultaram num precioso livro intitulado “Esse Ofício do Verso”. Deste, extraio a seguinte frase: “Creio que o poeta haverá de ser outra vez um fazedor. Contará uma história e também a cantará (…) e não consideraremos diversas essas duas coisas”.

Tomo esta frase como epígrafe do encontro que teremos no TERÇAS NA SOCIEDADE para, lembrando W. R. Bion (em “Transformações”, 1965), quando refere que “a posição do analista é semelhante à do pintor, que através de sua arte, acrescenta algo à experiência de seu público”, estimular uma reflexão sobre o trabalho analítico na atualidade.

Jorge Luis Borges (Fonte: Wikipédia)

Há muito se discute o que é “interpretação” na sala de análise. A principal implicação desta questão é que existam atos que ocorrem numa psicanálise clínica que não sejam propriamente psicanalíticos. Os analistas costumam sofrer muito com isso, ficam perseguidos pelos ‘fantasmas’ de suas normas técnicas, seus rigores, mandamentos, supervisões, etc. Estamos sempre nos perguntando: “Isso que estou fazendo é Psicanálise?”, “Será que estou na ‘verdadeira’ Psicanálise?”, ou “Será que enlouqueci de vez?!”…

Sigmund Freud (Fonte: Wikipédia)

Freud, nosso fundador, em seus textos técnicos intitulados “Recomendações” (Freud, 1912, 1913 e 1914) nos aconselhou a não “gratificarmos” nossos pacientes, a não cedermos aos seus desejos e sim interpretá-los. Entretanto, ele foi cauteloso ao ressaltar que suas recomendações não eram mandamentos, mas diretrizes, vetores, que apontavam uma direção de bom andamento de uma psicanálise. Tal qual um casal que gera seus filhos para o crescimento e a emancipação (triangulação edípica benigna), o ‘pai’ da Psicanálise abriu caminho para que cada analista encontrasse seu método pessoal de práxis psicanalítica.

Freud lutou com afinco para firmar a Psicanálise como uma ciência específica, distinta da Psicologia, da Filosofia, da Psiquiatria e mesmo da Medicina (sua grande aliada); sempre foi rigoroso com sua técnica, sem perder o respeito pelo pensamento alheio. Nos legou preciosos ensinamentos técnicos, métodos, que em muitos aspectos evoluíram e em outros permaneceram como propôs, de tão próximos do Realidade Última (“O”) que eram. O setting freudiano é um bom exemplo disso, não mudou quase nada desde sua criação há mais de um século.

A ideia de Interpretação está no centro do pensamento psicanalítico, especialmente da técnica que Freud preconizou. Inicialmente, a psicanálise foi caracterizada pela interpretação, que, essencialmente, visava evidenciar o sentido latente das comunicações verbais e comportamentos do indivíduo, revelando-lhe suas produções mentais inconscientes. Mas, ao mesmo tempo que esta formulação permanece como uma Verdade, muita coisa também evoluiu ao longo de décadas de experiência clínica na Psicanálise.

W. R. Bion (Fonte: Wikipédia)

Inspirados no legado de Bion, e dos ‘artistas’ mais diversos, como Borges, podemos conceber outras formas de ‘interpretar’ no setting analítico. Este encontro visa refletirmos juntos sobre esse tema: as “comunicações” na sala de análise.

Espero que sintam-se estimulados a conversarmos um pouco sobre o tema.

Até lá!