por Denise Zanin, membro filiado da SBPRP e
integrante da Comissão Científica da SBPRP
Com esta pergunta provocativa, a mesa nos convida a transitar das grandes atrocidades cometidas pelo ser humano às sutilezas de um modo de estar no mundo marcado pela impossibilidade de pensar e de tornar-se responsável por quem se é. Pensar, tarefa complexa de estabelecer relações e sentidos, de perceber-se inserido nos processos mais amplos que constituem a realidade em que se vive, de implicar-se na própria existência com suas ressonâncias e repercussões no outro.
Essa temática nos propõe ainda considerarmos a propagação “do mal” de maneira automática, através de atitudes irrefletidas de pessoas comuns, por vezes embaladas por um fenômeno de massa, em oposição à possibilidade de se fazer questionamentos e considerações via pensamento. No contexto atual chama a atenção, como um exemplo, a disseminação de Fake News.
Podemos nos movimentar entre as questões filosóficas, as históricas, as psicanalíticas, as do nosso contexto atual. Inspirados em nossos palestrantes, perguntamos: É possível estarmos isentos dos fenômenos que nos atravessam e que nos cercam, ainda que estes nos escapem (os ignoremos)? Como nos posicionamos diante dos problemas de nosso tempo? Em relação à população que vive à margem da sociedade, muitas vezes longe de nossos olhos, temos alguma implicação ou responsabilidade nisto?
Para compor a mesa “Afinal, quem é o Vilão – Das atrocidades à irreflexão, de que maldade falamos” receberemos como convidados:
Dr. José Alves de Freitas Neto, historiador, filósofo e professor
e Silvia Maia Bracco, psicanalista membro associado da SBPSP
Conhecedor de Hannah Arendt, Dr. José Alves de Freitas Neto foi curador e palestrante do programa Café Filosófico dentro de uma série chamada “Grandes intérpretes para questões do século XXI”. Em sua palestra “Hannah Arendt: a capacidade de julgar” discorreu sobre temas intimamente relacionados às propostas desta mesa. Assim, uma das ideias trazidas nesta reflexão seria a da “banalidade do mal”, termo cunhado por Arendt. A partir desta ideia podemos pensar sobre como pessoas comuns podem compactuar com grandes atrocidades, ou mesmo perpetuar o mal através de sua impossibilidade de pensamento reflexivo que, por vezes, se expressa em comportamentos burocráticos, automáticos, banais.
É importante acrescentar que o olhar para o outro a partir da perspectiva burocrática é desumanizante; retira do sujeito sua existência subjetiva, transformando-o em coisa. Considerando o conceito de banalidade do mal, principalmente dentro do contexto em que foi produzido (nazismo), é possível refletir ainda sobre os sérios desdobramentos da incapacidade de pensar de pessoas comuns, mencionada no início deste texto.
Nosso convidado participou ainda de outros Cafés filosóficos com as palestras: “Foi para isso que lutamos pela liberdade?”, “Maquiavel e arte de enganar-se”, “Quando muito é pouco: a avareza”, entre muitas outras participações como palestrante em programas, cursos e eventos.
Dr. José Alves de Freitas Neto possui graduação em Filosofia pela Universidade São Francisco (1992), mestrado em Filosofia pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (1996), doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (2002) e pós-doutorado no Instituto of Latin America Studies (Ilas) na Columbia University (Nova Iorque, 2013). É professor livre-docente do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Tem ampla experiência na área de história, com destaque para os temas de cultura e política nas Américas.
Nossa outra palestrante, Silvia Maia Bracco, é psicanalista, membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), mestre em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUCSP) e coordenadora da área de saúde do Ateliescola Acaia. Possui importante experiência no trabalho com populações que vivem em situação de exclusão, vítimas do desamparo social e privadas de tantas maneiras, inclusive do reconhecimento de suas dores e humilhações provenientes desta condição de violência a que estão expostas. Desde 2016 atua também junto à Diretoria de Atendimento à Comunidade da SBPSP, no setor de parcerias e convênios.
Silvia Bracco nos apresenta uma psicanálise viva e capaz de incluir em suas reflexões questões sociais, culturais e políticas (no sentido mais amplo e implicado da palavra). Assim, através de um olhar abrangente e complexo, que se dá na interface entre vários campos do conhecimento, temos um exemplo de prática psicanalítica que não está à parte do mundo a que pertence.
Dessa forma, realiza um trabalho junto à população que vive à margem da sociedade; pessoas por vezes invisíveis aos olhos de muitos, e distantes do consultório do psicanalista. Segundo ela, as intervenções com esse público apontam para “a potência da escuta psicanalítica que pretende romper com discursos que contribuíram no processo de subjetivação destas pessoas, gerando novas possibilidades, incluindo a tão preciosa condição de nomear experiências e tecer narrativas numa abertura para a singularização”.
Para a aproximação desta população proveniente de uma realidade tão diversa, nossa convidada nos traz a importância do máximo respeito à alteridade em seu aspecto profundamente desconhecido, dimensão ética fundamental do trabalho psicanalítico. Em suas palavras: “É um trabalho que envolve tempo largo, paciência e a tarefa de nos colocarmos como aprendizes dessa realidade social”. Em estreita conexão com o tema de nossa Bienal e desta mesa, Silvia exerce sua psicanálise de maneira a tornar permeáveis as fronteiras.
Partindo destas instigantes propostas, esperamos – junto com nossos convidados – poder dialogar sobre estas questões fundamentais e tão presentes em nosso cotidiano. Esperamos vocês!
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