texto por Josimara M F de Souza, Coordenadora Geral da V Bienal

Bem-vindos à V Bienal da SBPRP!

Nos últimos dias 06 e 07 de novembro, realizamos a abertura da V Bienal de Psicanálise e Cultura com o tema (Im)permeáveis Fronteiras. Não foi um processo fácil: após o adiamento em decorrência da pandemia, tivemos que lidar com todas as angústias ligadas ao isolamento, à mudança repentina para os atendimentos on-line e ao cansaço após inúmeras reuniões virtuais. Mas se, por um lado, a pandemia dificultava as coisas, por outro, foi um incentivo a mais, pois o tema das fronteiras se impunha e se mostrava urgente e necessário. Conseguimos retomar os trabalhos em um grupo potente e criativo.

O evento de aquecimento (“Colonialidade e Racismo”) e este do último final de semana (“100 anos de além do Princípio do Prazer” e ”Das Atrocidades à irreflexão, de que maldade falamos”) constituíram-se em experiências fortes e emocionantes. As apresentações artísticas, da cantora ribeirão-pretana Fernanda Marx, da Orquestra Mundana Refugi e da Cia de dança Plêiade, foram arrebatadoras e nos introduziram, cada uma, ao tema das mesas que se seguiram: Fernanda cantando o racismo, a orquestra maravilhosa mostrando um trabalho único de convivência entre os povos e entre as diferenças e a dança tratando plasticamente da banalidade do mal. As discussões sobre o racismo estrutural na sociedade brasileira, sobre os 100 anos do texto fundamental de Freud “Além do Princípio do Prazer” e no sábado, sobre as atrocidades de nosso cotidiano, abriram frestas no sentido da psicanálise se conectar aos problemas do mundo e, no resgate da tradição freudiana, contribuir para sua reflexão. As falas de Wânia Cidade, Dagoberto José Fonseca, Ignácio Paim Filho, Douglas Garcia Alves e Sandra Bracco trouxeram importantes expansões para nosso universo psicanalítico: nos ajudaram a pensar na formação do povo brasileiro, nas nossas raízes escravocratas, na questão da destrutividade que pode tomar caminhos cruéis e de aniquilamento das diferenças, no perigo do “não pensar” e da irreflexão. Estas expansões trazem a necessidade de repensarmos a atuação dos psicanalistas e a importância de estarmos mais inseridos na comunidade e pensarmos em nossa responsabilidade social com relação aos que vivem à margem da sociedade.  Se nossa atuação na Pólis precisa ser repensada, nossa formação também, quem sabe incluindo seminários que discutam esses temas das fronteiras, por exemplo, o racismo, a diversidade sexual, a responsabilidade social da psicanálise e os trabalhos na comunidade.

Nossa Bienal continua em mais três partes: em fevereiro discutiremos o conceito de estrangeiro na psicanálise e o racismo; em março as catástrofes ambientais, e em abril a potência da arte e da psicanálise nas fronteiras. Seguiremos no empenho de integrar as apresentações artísticas com as mesas redondas, tentando atravessar as fronteiras entre a psicanálise, os outros saberes e a arte.