por Núcleo de Reflexão Psicanálise e Mal-Estar na Cultura,
ligado à Diretoria de Comunidade e Cultura

A SBPRP vem a público manifestar seu total repúdio e indignação com relação ao assassinato de João Alberto Silveira Freitas, ocorrido no dia 19 de novembro, em uma das lojas da rede Carrefour de Porto Alegre. Especial repúdio provoca a maneira indiferente como nós, brasileiros, temos reagido a fatos assim, que longe de serem isolados, são recorrentes ao longo de nossa história.

A cantora Fernanda Marx no encontro on-line da pré-Bienal com o tema Colonialidade e Racismo

No dia 25 de Agosto deste ano, a SBPRP promoveu o encontro pré-Bienal com o tema Colonialidade e Racismo. Neste evento, a cantora ribeirão-pretana Fernanda Marx emocionou a todos com sua interpretação visceral da música “A carne” que diz “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. Fatos chocantes, como o ocorrido em Porto Alegre, expõem como os corpos negros são tratados em nosso país: com negligência e violência. Nosso país foi o maior destino de negros escravizados entre os séculos XVI e XIX e foi também o que mais tarde decretou o fim da escravidão. Quando a abolição foi promulgada, os negros foram lançados à “liberdade” sem qualquer indenização, nem sequer qualquer projeto para sua inserção na sociedade. Até hoje colhemos os frutos deste passado violento – uma desigualdade social brutal, e uma situação de exclusão de negros e indígenas dos espaços de decisão. Os dados estatísticos evidenciam que nascer negro no Brasil já coloca a pessoa em risco desde pequeno: a cada 23 minutos um negro morre no Brasil. Enquanto você lê esse manifesto, um negro pode estar morrendo. A constituição do sujeito como estruturalmente racista é um processo complexo, que passa por uma dimensão inconsciente importante e a psicanálise pode ter um importante papel no desvelamento desses processos e no esforço de restabelecer os nossos laços sociais tão precários neste momento.

Reconhecermo-nos como fazendo parte de um racismo estrutural mais amplo é o primeiro passo para darmos início a uma desconstrução de formas de relações perversas, marcadas por submissão e humilhação. Não podemos mais nos evadir da responsabilidade que temos enquanto cidadãos brasileiros, respaldados na ideia de que não temos culpa com o que aconteceu no passado, por não estarmos ligados diretamente àquelas ações.  É nosso dever nos posicionarmos, assumindo nossa responsabilidade histórica e repensarmos nossas ações no presente e futuro.