Separamos alguns conteúdos interessantes sobre a formação em Psicanálise:
O que é importante você saber sobre a formação em Psicanálise
A Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP) é entidade componente da Associação Internacional de Psicanálise (IPA), responsável por traçar as diretrizes para as instituições que oferecem formação em psicanálise[1]. O Instituto de Formação da SBPRP segue o modelo denominado Eitingon[2] baseado no tripé: análise didática, supervisões didáticas e seminários teóricos e clínicos.
Nos últimos anos, nos guiando pelas sugestões da IPA, temos buscado desenvolver junto aos nossos membros uma consciência institucional como parte de um quarto eixo de formação: a instituição forma psicanalistas e os psicanalistas, em seus diferentes momentos de formação, re-formam a instituição, num looping contínuo.
[1] A SBPRP também é componente da Federação Psicanalítica da América Latina (FEPAL) e da Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI).
[2] A SBPRP está neste momento trabalhando com afinco para implantar a Formação Integrada, através da qual o psicanalista se torna apto a trabalhar com crianças, adolescentes e adultos numa única formação.
Qual o percurso da formação em psicanálise?
Quando selecionado para a formação segundo os critérios estabelecidos que constam do Edital de abertura de inscrição no processo de seleção para a formação de psicanalistas da SBPRP, o interessado cumprirá um tempo mínimo de 5 anos de análise didática com quatro sessões semanais. Durante o primeiro ano, ele não terá seminários teóricos ou clínicos da grade curricular da formação, mas participará de eventos e seminários eletivos e necessariamente não específicos sobre psicanálise. Este é um tempo no qual o interessado tem a possibilidade de “flertar” com a formação oferecida, com a instituição, com seus membros e, principalmente, vivenciar experiências significativas através de sua análise didática. Este intervalo o ajudará a sentir se a formação que oferecemos contempla o que ele busca.
Após este período, o indivíduo passará por uma segunda rodada[3] de entrevistas pessoais. Nestas entrevistas, entrevistador e entrevistado referendam o interesse e condição do indivíduo para iniciar seus seminários teóricos curriculares. Uma vez que “estes votos” tenham sido ratificados, o interessado iniciará sua formação teórica.
Nossa grade de seminários teóricos é distribuída ao longo de quatro anos com dois seminários semanais. Nestes seminários estudam-se as teorias que fundamentam a disciplina da psicanálise e seus desenvolvimentos. Os seminários clínicos constam da apresentação e discussão de material clínico do próprio trabalho clínico do indivíduo em formação. Podem ser frequentados após o indivíduo cumprir os seminários teóricos de Técnica I. Também, após cumprir estes seminários, poderá iniciar suas supervisões didáticas. São exigidas três supervisões didáticas, as duas primeiras com duração de 80 horas e a terceira com 50 horas. Além desta grade obrigatória, o Instituto da SBPRP oferece seminários eletivos que abordam temas e/ou autores outros. O indivíduo em formação, após cumprir estas exigências receberá o Certificado de Psicanalista concedido pela IPA, válido em todos os países que possuem Sociedades de psicanálise componentes da IPA.
[3] A primeira rodada de entrevistas acontece no processo de seleção.
Quais os custos da formação?
Ao se inscrever para a seleção, o indivíduo interessado arca com as taxas de inscrição da primeira e segunda fases da seleção que constam do Edital divulgado. Quando selecionado, no primeiro ano o custo é o da sua análise didática que é acordado entre analista e analisando sem a interferência da instituição. Passado este ano e após a segunda rodada de entrevistas, o indivíduo que escolhe e está apto a seguir com sua formação, arca com uma taxa de ingresso e com a mensalidade da sociedade, valores fixados e atualizados periodicamente pelo Conselho Diretor da SBPRP[4].
Os custos referentes às sessões de análise didática e às sessões de supervisão didática sempre são fruto de acordo entre analistas didatas e seus analisandos ou supervisionandos, nunca sofrendo a interferência da instituição.
[4] Por serem valores mutáveis, você poderá se informar sobre os valores atualizados no ato da sua inscrição para o processo de seleção.
Por que fazer uma formação em psicanálise?
Da admissão do indivíduo no Instituto da SBPRP até ele alcançar o seu título de Psicanalista são percorridos em média 8 anos de formação.
Você deve estar se perguntando por que fazer uma formação com tantas exigências e por que um percurso tão longo? Estas características estão na “contra mão” de tantas outras formações mais rápidas!
Certamente, cada psicanalista em sua singularidade encontra suas próprias respostas e as atualiza no curso de sua vida. É muito difícil escrever sobre o que é inacessível aos olhos e requer que se transcenda dimensões mais concretas. Mas, registramos aqui alguns pensamentos que nos são muito caros e nos quais acreditamos.
Espera-se que um psicanalista bem formado esteja capacitado a desenvolver uma psicanálise profunda como nenhuma outra formação profissional oferece. Cada indivíduo tem sua personalidade que é ímpar, mas almeja-se que neste percurso de 8 anos o indivíduo em formação não só aprenda sobre psicanálise, mas apreenda a si mesmo: sobre as dimensões profundas da sua própria mente, sobre suas capacidades e seus limites. Neste período, deseja-se que o psicanalista desenvolva uma ética complexa: muito além de alcançar uma série de conhecimentos e técnicas, aspira-se que ele desenvolva uma sabedoria sobre si mesmo, sobre o outro, sobre o melhor e o pior do ser humano, e que possa respeitar a condição de cada um. Tenciona-se que ele desenvolva dimensões mentais e emocionais que enriqueçam seu trabalho profissional e sua própria vida.
Então, não é que ao final de 8 anos o indivíduo “acorda” psicanalista. Ele vai se tornando um psicanalista através das muitas experiências que vai vivenciando neste tempo. Aliás, um psicanalista está sempre “tornando-se” psicanalista através do desenvolvimento de sua capacidade para apreender a si mesmo nas situações que se sucedem em sua vida profissional e pessoal.
Ele, o psicanalista, assume e sustenta que irá colaborar com o desenvolvimento mental e emocional de outro indivíduo, seu analisando, na direção e no ritmo únicos deste último.
Você entregaria a sua mente para um profissional de qual formação? Certamente, sua resposta estará alinhada com o que você busca. Muitas são as formações profissionais e linhas de trabalho sérias que auxiliam, e muito, as pessoas a lidarem de uma forma melhor com suas vidas. A diferença fundamental que enxergamos no processo de psicanálise é ele trazer o potencial de resgatar e desenvolver a capacidade do indivíduo para pensar. Pensar é bem diferente de remoer pensamentos. Pensar implica a condição do indivíduo para enxergar e sentir a si mesmo na relação com o outro, para enxergar a sua realidade interna e a externa, para perceber a conexão existente entre ele e seu entorno e conjecturar sobre o futuro através de sua intuição e imaginação, levando-o para escolhas mais genuínas e promissoras. Isto não tem como ser apressado e apreçado.
O que poderíamos imaginar para a condição global atual se as pessoas com poderes e recursos para decisões soubessem aprender com o passado e observar o presente para desenvolver algo bom e útil para a humanidade desde já e seguindo para o futuro? Nossa resposta não é do tamanho da visão iluminista de Freud e outros que depositavam “sua fé” na ciência e na psicanálise como agenciadoras de uma transformação social. Arriscando-nos com extrema sinceridade, não temos uma resposta. Apenas perseguimos a conjectura de que a conscientização e apreensão de nossas precariedades nos voltam para o desenvolvimento de uma ética profunda, e compreendemos a psicanálise como um campo de conhecimento e prática que potencializa este desenvolvimento através da ampliação da capacidade para pensar. Nós observamos que as sementes férteis de nossa personalidade brotam no solo do auto-conhecimento.
Recentemente, a Pixar lançou o desenho animado Soul. Neste desenho infantil indicado para crianças de um à cento e dez anos, dois dos personagens descobrem a diferença entre conceber a vida como tendo um “propósito final” e viver a vida como um “percurso, perseguindo um propósito sonhado”.
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