“Somos do tamanho do nosso sonho”
Fernando Pessoa

Somos seres fronteiriços!

Nosso trabalho com a Psicanálise nos impõe essa discriminação como tarefa: a de nos reconhecermos em passagens. Ampliando o foco, podemos afirmar que toleramos como dever de ofício, a consciência de sermos um passadouro, apenas um flash que delineia um momento no qual existimos.

Essas formulações abstratas, imprecisas e sofisticadas nos apresentam para as angustias e promessas do “vir a ser”, isto é, para as probabilidades de existirmos nos próximos momentos dentro de um espectro assustadoramente amplo de possibilidades.

As configurações que alcançamos até o momento presente, como indivíduos, como grupo, como raça e como espécie nos permitem prever quais as possibilidades de existências? Quais dádivas e/ou tragédias vão se apresentar como eventos reais em nosso futuro?

Essa experiencia apocalíptica que estamos vivendo, apocalipse no sentido grego clássico como descoberta, tem nos revelado dimensões do mundo que habitamos que nos fazem duvidar se podemos experimenta-las e acolhe-las dentro da condição humana como a concebemos até então. Transitamos em uma oscilação contínua entre o humanamente acessível e o inacessível humanizado a cada passo.

Cotidianamente nos defrontamos com expressões de barbáries inomináveis e com ações de semideuses, habitantes de olimpos impensáveis e proibidos ao ser humano comum, editando o destino da raça humana.

A Psicanálise tem muito a oferecer à humanidade nesses tempos obscuros!

Como Sociedade pertencente a uma Instituição Psicanalítica, procuramos nos equipar e aprofundamos a consciência a respeito das nossas limitações e recursos.

Como psicanalistas, sabemos sobre a realidade da personalidade e de que a exortação “conheça a ti mesmo, aceite-se, seja você mesmo” está implícita no processo analítico e não pode ser colocado em pratica sem a experiência analítica.

Como pessoas, podemos combinar nossas capacidades criativas individuais de modo a criar uma força comunal de imensa importância. Podemos olhar para dentro de nós mesmos e reconhecer que, embora moldados pela evolução somos capazes de nos elevar e voar bem alto, para além das necessidades de sobrevivência. E podemos nos maravilhar diante da maneira como um conjunto cuidadosamente organizado de mentes pensantes consegue transmitir pontos de vista sobre nossas realidades e fornecer um retrato afetuoso do amor e da morte.

Os pensamentos simbólicos que a “Sonda Psicanálise” difundem à medida que avança no processo de humanização, nos permite alcançar e propor interações sociais avançadas.

Dedicamo-nos a um trabalho altamente sofisticado e que exige uma formação continuada e profunda que visa fundamentalmente, a partir das nossas experiências partilhadas, construir e acessar pensamentos compartilhados.  Somos tecelões de redes complexas, que urdimos a partir de sonhos e pensamentos conjugados em nossas profundezas, para acolher centelhas de humanidade e torna-las compartilháveis.

Que venha 2022, pois esse ano que passou foi árduo e duro, como as ceifadeiras arrancando os frutos de uma seara cultivada por gerações de semeadores. Agora chega a época das novas plantações, esse campo entrelaçado se estende à nossa frente como terra tombada e aguarda a nossa semeadura.

Vamos festejar a nossa colheita e compartilhar nossas sementes, é tempo de plantios.