O próximo Terças na Sociedade acontecerá no dia 10 de maio, às 20h. Trazendo o tema “Viver e morrer na pandemia: do luto à luta”, contaremos com a participação de Maria Lucimar Paiva, membro associado da SBPRP.
O encontro on-line acontecerá pela plataforma Zoom. Garanta a sua vaga pelo site:
https://sbprp.org.br/proximos-eventos/
> ATENÇÃO: O link de participação estará disponível em sua Área Restrita após a finalização da inscrição e não será enviado por e-mail!

Viver e morrer na pandemia: do luto à luta
por Maria Lucimar F Paiva
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
(Sophia de Mello B Andresen, “Poesia”)
Uma pandemia assolou o nosso mundo a partir de 2019…
E quantas tragédias antes nos assombraram, e tantas outras infelizmente permanecem acontecendo. Outras podem sempre nos surpreender. Sabemos disso.
Mas essa pandemia trouxe consigo um espanto: não aconteceu somente de um outro lado do mundo, onde podemos não ver, não sentir, se assim decidirmos não nos ocupar com o que importa. Como um grande meteoro, ela afrontou nosso pequeno universo, ameaçou a todos e a cada um de nós. E se mantém como uma ameaça ainda muito presente, após mais de dois angustiosos anos.
Nos nossos pequenos mundos essa pandemia se insurgiu, carregando a soma de muitas outras: lutos revividos, lutos de muitos outros, e terrores não figurados, de uma vida inteira.
Lidar com a tentadora ilusão de saber o que não se sabe, de conhecer o que é desconhecido, talvez tenha sido um dos mais desafiadores movimentos em busca de lucidez, descobertas e sobrevivência, de fato. O que fazer com a desilusão de um corpo imortal fantasiado (sim, porque a temos!), ou sobre existirem seres oniscientes que nos cuidam sempre, e, fundamentalmente, o que fazer com as verdades possíveis enquanto não se apresentam outras mais confiáveis?
Como conhecemos de Luto e Melancolia (Freud, 1915), o luto profundo que se segue à perda de um objeto amado, de um ideal (das ilusões) determina em termos psíquicos, “…um abatimento doloroso, uma perda do interesse pelo mundo externo, …perda da capacidade de eleger um novo objeto de amor, …inibição e restrição do Eu, …, (que) exprime uma exclusiva dedicação ao luto, em que nada mais resta para outros intuitos e interesses”. De algum modo, vivemos e acompanhamos tentativas de elaboração desse estado de mente. Incluindo ainda momentos de torpor, apatia, e de sentimentos de muito ódio ou negação dessa difícil realidade.
Muitos sonhos precisam ser sonhados em contraponto a essa ameaça invisível e constante, em que o impacto traumático se estendeu para além do suportável. A persistência do “não-luto”, ou a insidiosa condição de apego maior ao sentimento de morte e à tragédia, assim como o uso de recursos maníacos, que dominam e aprisionam, têm a sequela de paralisia frente à vida possível. Convido vocês para nossa conversa no dia 10/05, que pretende abordar a clínica desses estados decorrentes das muitas “pandemias” que acompanham as nossas vidas.
Deixe um comentário