Quando foi a última vez que você foi abordado por um policial na rua? Há anos? Semana passada? Ontem?
E se isso acontecesse todos os dias? O curta “Dois Estranhos” apresenta uma ficção realista em que um homem negro fica preso em um loop onde ele é assassinado todos os dias pelo mesmo policial.
Sem lidar com uma ficção realista como se fosse uma realidade ficcional, Josiane Barbosa apresenta o poema que criou a partir da sua reação viva à obra:
“Eu caí de um prédio quando tinha 5 anos…”
Leia a seguir o texto completo!
*Lembramos que o filme não será exibido, devendo ser assistido previamente. Disponível na Netflix.
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APAGAMENTOS
por Josiane Barbosa
Eu caí de um prédio quando tinha 5 anos.
Eu fui assassinado por uma bala perdida quando saía da aula de ballet. Eu levei um tiro em um assalto de banco.
Eu fiquei estirada no chão quando a tropa que “protegia” minha comunidade veio investigar uma suspeita de droga.
Eu morri esquecida no fundo da sala de aula quando não achavam que eu podia aprender a ler.
Eu morri quando fui chamada de feia e não identificavam a beleza de um corpo diferente.
Fui morta quando imputaram-me uma agressividade generalizada cada vez que eu só me defendia.
Morri de medo, morri de vergonha, morri de ostracismo, morri de apagamentos, morri de distorções de corpo, de alma, de papel social.
Morri cada vez que mataram os meus. Morri, morro, morrerei.
Eu revivo depois de cada morte, mas sempre com cicatrizes eternas, com marcações que me redirigem a um futuro tão amargo quanto necessário. Há que se morrer, mas não sem parar a luta, jamais.
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