O Cinema e Psicanálise de Franca apresentou Fale com Ela (2016) neste último sábado, dia 08, com considerações de José Cesário Francisco, médico psiquiatra e psicanalista analista didata da SBPRP.

Imagem: Luciana Marques

Segue comentário da Comissão do C&P de Franca sobre o filme:

Quem conversa, conversa com quem?

Vemos pessoas que conversam com muita gente, dessas que “puxam papo” em filas de banco, em supermercado, em salões de beleza. Vemos pessoas que só conversam com pessoas a quem já foram apresentadas. Vemos outras que, mesmo as conhecidas são evitadas e só conversam com as pessoas muito íntimas. Há outras que conversam só consigo mesmas. Também registramos aqueles que não conversam com ninguém.

Conversar é considerar a necessidade de um interlocutor para nossos pensamentos. Alguém que possa nos escutar nas viagens mentais que realizamos quando queremos contato. Alguém que nos espelhe, alguém que nos refute ou nos amplie, alguém que nos permita uma relação humana.

Conversar de verdade implica em ter algo a dizer de muito nosso. De muito peculiar, produzido pelos nossos pensamentos.

Todos entendem assim? Não, com certeza não. Uma conversa nem sempre é entendida como conversa. Há desvios da comunicação tanto da parte de quem quer se comunicar quanto da parte de quem recebe o convite ao encontro. Conversas desviadas, conversas mal entendidas, distorcidas, inventadas, fantasiadas, fiadas. Conversas desconversadas.

No último sábado, assistimos e conversamos sobre o filme Fale com Ela. Um filme que trata dessa complexa arte do diálogo.

Nesse filme de Almodóvar adentramos ao círculo de pacientes em estado comatoso e seus cuidadores. O enredo traz a experiência amorosa de dois homens com duas mulheres que se acham “ausentes” da consciência e com quem eles insistem em conversar. A imagem da pessoa antes, de um problema de saúde muito sério é capaz de transformar-se para quem a ama? Profundo exercício realizado pela condução enriquecida do diretor espanhol, temos diante dos olhos os conflitos e fantasias de dois homens, o jornalista Marco e o enfermeiro Benigno, na árdua tarefa de buscar contato com alguém temporariamente preso dentro de si mesmo.