por Ana Márcia Vasconcelos de Paula Rodrigues, psicanalista membro associado da SBPRP
Em maio, enquanto caminhava pelas ladeiras de Tiradentes, vivi um inesperado e raro encontro com o encantamento. O palco do encontro foi um casarão colonial com ares de fortaleza que se destaca na esquina da rua Direita como construção maciça, com blocos rochosos e grades de ferro nas janelas. Havia sido a cadeia pública da cidade no século XVIII e há pouco mais de 2 anos passou por uma reinvenção para abrigar um amplo, moderno e revitalizado espaço arquitetônico, com primoroso acervo de 300 imagens esculpidas de Santa Ana ao lado de sua filha, a Virgem Maria, e algumas peças incluem o Menino Jesus.
O Museu de Sant’Ana, ambiente de comunhão entre arte, história, fé e sonhos, impressionou-me pelo contraste entre suas funções no passado e no presente, pois se, originalmente, foi forjado para aprisionamento e penalidades, hoje oferece um magnífico acervo para experiências estéticas de trânsito livre a nos proporcionar contato com obras eruditas e populares de vários cantos do Brasil, em especial de Minas Gerais.

As obras de artistas anônimos foram garimpadas ao longo de 4 décadas pela colecionadora Ângela Gutierrez e impactam pela riqueza e variedade de detalhes e estilos, de acordo com o contexto das tendências culturais regionais e influências da colonização na sua confecção. Expressam o sentimento artístico e o ato de fé do povo de um país nascente.
E assim como o imaginário inconsciente, o Espírito artístico das Minas Gerais não comporta produção em série, mas ao contrário, convida-nos a pensar e sentir sua singularidade. Podemos ver a forte e ancestral relação mãe e filha, ora as Sant’Anas Guias estendem a mão à menina ou adolescente, sem tocá-la, mas conduzindo o caminho; ora as Sant’Anas Mestras apresentam-lhe o mundo por meio do livro dos conhecimentos passado de geração a geração.

Este ato de contemplação nos abastece, constrói e ativa nosso acervo de memórias-sonho, tão indispensáveis e essenciais ao trabalho psicanalítico.
E logo ali, tão perto de nós, escondido no meio de serras e montanhas de Minas, encontra-se um patrimônio de arte sacra incomparável a ser descoberto e utilizado como matéria-prima para a função psicanalítica da personalidade.

Fica aqui a minha dica para uma visita presencial, mas por enquanto virtual, ao Museu de Sant’Ana através do site museudesantana.org.br.
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