No próximo dia 13, será realizado o Terças na Sociedade. Desta vez, os comentários serão de Ana Cláudia G. Ribeiro de Almeida, membro associado da SBPRP, sobre o tema “Intimidade”.
Ana Cláudia falou um pouco sobre o tema e os pontos que irá destacar na conversa do Terças:
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Intimidade: afinal o que é isso em psicanálise?
Intimidade, mesmo não sendo um conceito específico da psicanálise, sem constar de dicionários ou vocabulários psicanalíticos, apresenta-se como tema de investigação e reflexão entre nós e entre psicanalistas do mundo todo, já que é o tema do 50º Encontro da IPA – International Psychoanalytical Association (Associação Psicanalítica Internacional que congrega Sociedades de Psicanálise de diversos países) a se realizar em julho próximo na Argentina.
Como um termo, aparentemente, banal e de uso corrente em diversas situações, estando presente de alguma forma em qualquer atividade e relacionamento humano, vem ocupar o centro das nossas atenções e alcançar alguma especificidade em psicanálise?
Para considerar esta questão é preciso sair da banalidade, do uso corriqueiro/superficial e buscar as raízes, definição e origem do termo, onde encontramos, segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, que intimidade é qualidade do que é mais íntimo e profundo (…) relação muito próxima… Intimidade diz respeito ao que é mais íntimo e profundo e a definição de íntimo segundo o mesmo dicionário é âmago; alma; que constitui a essência de algo; que existe no âmago de alguém…
Aqui já se descortina o que tem muito a ver com a psicanálise, a busca e o encontro com o que há de mais profundo, íntimo e reservado de uma pessoa. Um termo não psicanalítico que praticamente poderia definir Psicanálise.
Freud ao nos apresentar o inconsciente e a teoria da sexualidade lançou as bases fundantes da psicanálise e nos comprometeu como psicanalistas, de forma irreversível, com um trabalho que se dá na intimidade e somente em intimidade consigo mesmo e com o outro. Melanie Klein com seu mergulho no mundo interno segue adiante na constituição do que poderíamos chamar intimidade em Psicanálise, e Bion ao propor as Transformações em O, radicaliza a busca pelo mais essencial de si mesmo. Meltzer, Winnicott e Ogden, seguem na ampliação do nosso campo de conhecimento e considerando a relação com o outro, a partir de vértices diferentes, lembram que o íntimo pessoal, original de cada um, apenas se constitui a partir da experiência de intimidade com o outro, como uma experiência co-criada.
Em nossas experiências universalmente humanas, somos todos concebidos num ato íntimo de um casal, nos constituímos na interioridade/intimidade do corpo de uma mulher e nos desenvolvemos sendo alimentados, tocados e cuidados intimamente por alguém. A partir destas relações primeiras aprendemos e apreendemos o que conhecemos de nós mesmos e de nossa forma pessoal de nos relacionarmos com o mundo e com os outros.
Proponho para nosso encontro um percurso compartilhado, no trânsito íntimo<>intimidade a partir de referenciais psicanalíticos, mas também de referenciais da cultura e da arte. Como num mosaico de espelhos que poderia se compor do Espelho do Mito de Narciso, de O Espelho conto de João Guimarães Rosa, nos espelhando na intimidade observada no A Vida dos Outros (ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2007) chegando ao Black Mirror da série Netflix, poderemos conversar percorrendo as possibilidades de constituição ou não do íntimo e da intimidade nas suas diversas formas, e em especial em Psicanálise.
Até lá!
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