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Bela Manhã

por Leonardo Couri, membro filiado da SBPRP

A menina solitária, melancólica, após acordar de um sonho mal dormido, toma um café ralo e requentado. Olha para o universo de prédios, concretos e nuvens da janela de seu quarto. Uma brisa suave da manhã milagrosamente faz movimentos delicados nos seus cabelos desgrenhados. Ela se sente profundamente ofendida com esse ato. O sol já começa a lhe incomodar. Os raios iluminam o quarto todo bagunçado. O frescor da manhã se mistura com o cheiro de poeira e a faz espirrar. Ela, entre brava e resignada procura por baixo das roupas jogadas no chão e acha uma tesoura de cabo vermelho e lâminas afiadas e começa a cortar lentamente o emaranhado de fios de nylon da tela de proteção. E ainda magoada pela manhã que exibia toda sua exuberância, pula do vigésimo sexto andar e brinda o dia com seu corpo ensanguentado, esvaziado, inadequado e infeliz.

(Texto criado a partir da experiência no Instituto Figueiredo Ferraz com o estímulo da obra “Aeroplano”, da artista plástica Amália Giacomini)