No último sábado, dia 14, foi realizado o Cinema e Psicanálise de Franca, com o filme “Vanilla Sky”. Leia o comentário de Josiane Barbosa Oliveira, membro associado da SBPRP e coordenadora da Comissão do C&P de Franca:
O espaço de observação do sonho ampliou-se consideravelmente. Há sonhos do sono, há sonhos acordados, há sonhos de saúde, de progresso, de motivação. Há os de sintoma, de angústia, de expressão do indizível, do invisível, do invivível.
Falamos e vivemos sonhos. Entremeados de realidade e fora dela. E nos apaixonamos pelo tema, presente em nossas músicas, em nossos livros, em nosso “papo de café da manhã”. Hoje eu tive um sonho… Neste último sábado de Cinema & Psicanálise voltamos à esfera da efervescente mente para conversarmos sobre as importantes relações que são estabelecidas entre os desejos, as frustrações, a realidade, a fantasia, as apropriações que o ser humano faz do que vive, do que sente, que escolhe ou não como ação.
O filme foi Vanilla Sky. Chamado de jovem clássico é uma peça cinematográfica muito admirada, vista e revista por um público cativo e fiel. Há muitos motivos para isso, principalmente o mérito da representação de um funcionamento vibrante da mente. O espectador é inserido nas flutuações reflexivas do personagem David, jovem milionário que vive um triângulo amoroso com Sophie e Julie. O que é verdade? O que é invenção? O que é reminiscência? O que é construção a partir de desejos? Há todo um suporte narrativo baseado inclusive na ficção científica e nas possibilidades dos avanços médicos que nos rodeiam atualmente. Cabe a reflexão: Para quais lados nossa psique campeia quando surge a necessidade de mudanças diante de “acidentes” em nossa vida?
Filme de 2001, sob a direção de Cameron Crowne, baseia-se no filme espanhol Abre Los Ojos (de Amenábar). Com Tom Cruise, Cameron Diaz e Penélope Cruz, música tema de Paul McCartney e título que remete a um quadro de Monet onde a vida é retratada de maneira bucólica e estaticamente “feliz”. Como se vê, marcadores atraentes para toda a repercussão que cercou seu lançamento e que o torna atual mesmo agora, tantos anos depois.
Ao propor a identificação do público, David, o personagem central, aborda também o conflito entre seu tédio cotidiano e o desejo de imortalidade, pois anseia por “dias melhores” quando possa resolver suas dores atuais. Essa expectativa tão humana é perpassada de diversas maneiras e a interação com ela leva a inquietantes observações. Será o amor um fio transformador? Difícil a permanência em qualquer resposta única. Vanilla Sky apóia-se justamente na instabilidade da tal “Lucidez”, apresentada como uma das opções da vida onírica.
O comentário ficou a cargo da psicanalista Maria Bernadete Amêndola Contart de Assis, Membro Efetivo e com Funções Didáticas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP).