Na próxima terça-feira, dia 08 de maio, será realizado o Terças na Sociedade, desta vez com o tema: Da “atenção flutuante” à “sem memória e sem desejo”: recomendações técnicas em expansão.
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Da “atenção flutuante” à “sem memória e sem desejo”: recomendações técnicas em expansão
por Ana Regina Morandini Caldeira, Membro Efetivo da SBPRP
Este tema diz respeito a uma proposta de que o analista não esteja simplesmente presente na sessão, com sua razão e seus conhecimentos, mas principalmente, que esteja com sua alma. Que seja sonhante, e disponível ao mundo interno de seu analisando.
Estar presente, com sua interioridade, é uma forma de iluminar a cena analítica.
Inspirei-me, inicialmente, na expressão “cegar-se artificialmente” de Freud, e posteriormente, na outra expressão sobre o penetrante “facho de escuridão” de Bion, como uma referência, hoje por nós conhecida, de que as estrelas são visíveis somente no escuro. É escurecendo a luz da razão, das memórias e dos desejos, que enxergamos o céu.
A proposta usada no título do trabalho, apresentado no “Terças na Sociedade”, sobre as recomendações técnicas denominadas atenção fllutuante (do Freud) e sem memória e sem desejo (do Bion), é de que o analista possa abolir as memórias e os desejos, que veem sob a forma de pré-conceitos, pré-juízos e anseio de compreensão imediata, os quais acabam por evocar uma mente saturada e com pouca receptividade ao novo e ao desconhecido.
Nosso saudoso Manoel de Barros, assim nos contou:
O olho vê
A lembrança revê
E a imaginação transvê
É preciso transver o mundo.
Freud e Bion, em momento algum, recomendaram que o analista mutilasse uma função egóica tão significativa, quanto é a memória. Mas definiram que, para que possamos transver o outro, deveríamos diminuir nossa sensorialidade e racionalidade. Assim, nos seria mais possível expandirmos a sensibilidade, que é propiciadora de um estado de intuição.
Em Recomendações aos médicos que exercem a Psicanálise (1912), Freud escreve:
Os melhores resultados terapêuticos […] são obtidos quando o analista age sem ter traçado um plano prévio, quando se deixa surpreender por qualquer fato inesperado, conserva uma atitude distanciada e evita qualquer ideia preconcebida.
No seu trabalho Notas sobre a memória e o desejo (1967), Bion nos diz que:
A memória sempre é equívoca como registro de fatos, portanto ela está distorcida pela influência das forças inconscientes. Os desejos distorcem o juízo porque selecionam e suprimem o material a ser ajuizado. […] Para o analista, cada uma das sessões deve carecer de história e de futuro.
Carecer de um plano prévio, de história e de futuro, significa estar no “aqui e agora” do encontro, ao ponto de possibilitarmos que os pensamentos flutuantes da sala de análise possam encontrar um lar.
A nós, psicanalistas, consiste um grande privilegio termos uma herança advinda de homens tão corajosos e ousados, quanto Freud e Bion, a nos conduzir em direção ao novo, ao não endurecido, ao sonhante. Devemos muito a eles, por nos ensinarem a não termos medo do contato humano, por nos contarem sobre a riqueza da psicanálise, no que diz respeito ao encontro genuíno e verdadeiro entre duas mentes que se dispõem ao desenvolvimento e à transformação.
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