por Maira Cecília Avi, membro filiado da SBPRP
Jorge Luis Borges é para mim um escritor familiar. Na realidade, tenho com ele uma relação de bons vizinhos que se encontram quase todos os dias. Às vezes para um cafezinho, outras para conversas mais densas. Mas sempre saio desses encontros de modo diferente do que cheguei.

Esse Borges já me fez ficar admirada quando escreveu um texto onde anulava a existência do tempo. Fiquei surpresa, mas acreditei nele. Mergulhando no conto, senti o presente estendido que os físicos quânticos nos falam.
Certa vez, quase caí para trás da cadeira quando ele descreveu a ausência do espaço. Mas eu novamente acreditei nele porque, lendo sua escrita, experimentei a inexistência do espaço. Parece que os físicos quânticos têm algo a dizer sobre isso também.
Esse Borges é danado!
Mas o que chama mais minha atenção é quando ele decide me contar histórias que demostram a circularidade das ruínas que habitamos. Eu o percebo sempre nos avisando que somos personagens de uma história que se repete.
E o que isso tudo tem a ver com pensamentos selvagens?
Nada! E tudo!
Aos poucos, com a convivência com Borges, percebi que apesar de sua cegueira progressiva (ou por conta dela) ele era capaz de observar campos incomensuráveis para nós seres comuns. Assim, ele era capaz de criar tais configurações de elementos que (nós) só seríamos capazes de observar muito depois dele.
Penso que Borges era aberto para que pensamentos selvagens pousassem em sua mente. Depois que passava algum tempo com eles, usava-os para criar seus escritos. Imagino que a mente de Borges tinha um campo de pouso para o selvagem muito mais amplo que o comum. Por isso podia nos falar, ou melhor, nos fazer sentir coisas como sem tempo, sem espaço, multidimensional, alguém e ninguém.
Pensamentos que se aproximam de uma outra realidade que está aí e, ao mesmo tempo, que buscamos ainda alcançar.
Gosto de pensar que Borges sabia acolher o universo, porque eu experimento o seu acolhimento toda vez que ele passa lá em casa para tomar um café comigo.
29 de setembro de 2018 at 15:47
Trata-se de informações necessárias para entender que o nosso conhecimento não deve ficar restrito ao nosso pequeno mundo. Precisamos muitas vezes desbravar e conhecer outras formas de pensar, enriquecendo a nossa. Parabéns
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