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O “ESTRANHO” (1919)

por Dr. Pedro Paulo de Azevedo Ortolan, membro efetivo da SBPRP

A Psicanálise pode também ser pensada como uma área do conhecimento que se propõe a iluminar aspectos até então inexplorados pela estética. E me parece interessante que Freud, ao publicar seu texto O “ESTRANHO”, há exatos 100 anos (1919), inicia com uma referência a essa questão da estética — entendida como a teoria das qualidades do sentir e não apenas como uma teoria da beleza e do sublime — pontuando que “só raramente um psicanalista se sente impelido a pesquisar o tema da estética”, argumentando que tal tarefa implica no desafio de integrar, também, as emoções causadas pelo repulsivo e assustador. Segundo Freud decorre daí o fato de que temas como estes, desenvolvido no “O ESTRANHO” permanecem periféricos ou são negligenciados nos estudos psicanalíticos.

De fato, este assunto tem sido mais explorado nos campos da linguística, da crítica e dos estudos literários, da filosofia, mitologia… do que no campo específico da Psicanálise. Mas não nos surpreende que Freud tenha se debruçado sobre o assunto. Sendo ele um pesquisador atento e disciplinado, dotado de refinada percepção e sensibilidade estética e, movido por uma curiosidade e capacidade de observação excepcionais, não deixaria de “tornar-se” intrigado pelo inquietante sentimento presente na experiência do “ESTRANHO”.

Penso que este tema, mesmo transcorridos já 100 anos, continua a nos instigar. Afinal, quem nunca foi tomado, mesmo na vida cotidiana, por uma sensação de estranheza diante dos próprios atos e/ou diante de certas circunstâncias da vida? Situações essas que comportam sempre uma ambiguidade: por um lado atraem e seduzem, mas por outro assustam, provocam medo ou até mesmo repulsa!

Partindo de uma análise etimológica da palavra “UNHEIMLICH” (traduzida inicialmente como Estranho e, mais recentemente, como Inquietante) bem como de suas diferentes expressões em outros idiomas, Freud avança rumo a uma apreensão metapsicológica da experiência do “ESTRANHO”, concluindo que aquilo que causa estranheza, medo e é, aparentemente incompreensível para o sujeito, foi anteriormente algo conhecido e familiar. Ele demonstra então a presença do mecanismo do recalque (bem como o movimento disruptivo de “retorno” ou desvelamento do reprimido); a dimensão infantil através do pensamento mágico e onipotente; a repetição involuntária; o fenômeno do duplo; os conflitos edípicos genitais e pre-genitais como elementos sempre presentes na experiência do “ESTRANHO”.

O interesse pelo tema do “ESTRANHO”, conforme a concepção do mesmo pela psicanálise, é sempre atual, uma vez que no campo difuso da Cultura geral, remete a fenômenos universais como o animismo, a magia e a bruxaria e a atitude do homem para com a morte, por exemplo.

Confiamos que os encontros que teremos durante o Encontro Preparatório que se aproxima (mais informações no site sbprp.org.br), dedicado ao tema do “ESTRANHO”, se configurem em oportunidade fértil para expandir a significação do conceito, a sua ligação com as etapas primitivas da constituição do psiquismo e sua vinculação a novos fenômenos!