por Maria Luiza Crisóstomo Piantino, membro associado da SBPRP
A Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto existe como uma associação vinculada a IPA (Internacional Psychosnalytical Association) desde 1993. Reúne profissionais médicos e psicólogos interessados no estudo e divulgação da Psicanálise. Desde os primeiros grupos de estudo, até hoje foram 16 anos, uma longa e muito produtiva trajetória para chegarmos até aqui.
Neste período, a SBPRP se constituiu uma das Sociedades mais influentes do país, por sua ampla produção científica, pela organização de grandes eventos, como as Bienais e o Bion2018, e pela participação ativa de seus membros no cenário psicanalítico brasileiro. Para tanto, é preciso organização, muita dedicação e paixão pela Instituição e pela Psicanálise.
A frente de todas essas atividades está um Conselho Diretor, que nesta gestão 2018-2020 é presidido por Silvana Maria Bonini Vassimon, a nossa entrevistada do mês!
Nessa entrevista, vocês poderão ler sobre o percurso de Silvana como psicanalista, sobre a história da SBPRP, sobre o desafio e a delícia de ser presidente e de organizar um evento como a Bienal 2020; sobre a relação da psicanálise com a comunidade, e muito mais.

MARIA LUIZA: Silvana, conte para nós, um pouco de sua trajetória de se tornar uma psicanalista.
SILVANA VASSIMON: Falar do meu caminho até a Psicanálise é sempre agradável. No início da adolescência já sabia que queria ser psicóloga. Nos anos de juventude descobri a Psicanálise, não através de um livro de Freud ou outro psicanalista, mas foi através da literatura que me descobri interessada em saber mais sobre os subterrâneos do ser humano.
Após minha graduação iniciei minha análise com dr. José Américo Junqueira de Mattos e pude constatar, de forma então mais viva, o meu interesse. A partir daí veio um precioso caminho de preparação: a busca da Sociedade de São Paulo, visto que ainda não existia a SBPRP, a seleção para a formação, a organização da vida pessoal e da clínica para fazer frente às exigências que viriam. Isso não é tão difícil quando estamos convictos de que buscamos realmente o que nos importa. Mas o suporte familiar é sempre fundamental.
A minha formação como psicanalista foi na Sociedade de Psicanálise de São Paulo, da qual sou membro associado, onde tive a oportunidade de conviver com psicanalistas e colegas de formação que muito enriqueceram minha vida; em todos os sentidos.
Com a formação do Núcleo de Psicanálise de Ribeirão Preto e, posteriormente, do Grupo de Estudos, pude me apresentar também em Ribeirão para me qualificar. Havia sempre participado do grupo de psicanalistas que deu início à SBPRP. Estar presente no Congresso da IPA, quando a Sociedade Provisória de Ribeirão Preto foi anunciada como “Sociedade Componente da IPA”, foi um momento de realização!
MARIA LUIZA: O que a motivou a tornar-se presidente da SBPRP?
SILVANA VASSIMON: Ser presidente da SBPRP é uma grande honra. Sobretudo pela confiança necessária, de toda a comunidade institucional, na minha condição de exercer essa função. É tarefa de extrema responsabilidade e plena de descobertas.
Para mim, significa principalmente a oportunidade de retribuir à Instituição tudo o que ela tem me proporcionado, tanto em termos de aprendizado como de convivência com os colegas e a comunidade.
Além disso, trata-se, para mim, de uma forma efetiva de colaboração. Toda instituição precisa contar com a participação efetiva de seus membros na construção de seu destino. Há ainda a questão pessoal: o desafio de saber mais de mim e continuar aprendendo.

MARIA LUIZA: E a Bienal? Como presidente, como é organizar um evento de tamanha amplitude e importância?
SILVANA VASSIMON: A nossa Bienal é um evento de sucesso consagrado! Realizar 5 Bienais, com presença de um público expressivo e de personalidades ímpares da psicanálise e da cultura, é um feito a ser reconhecido. A SBPRP tem conseguido preservar esta realização em meio, algumas vezes, a situações sócio-político-econômicas adversas. A preparação de cada Bienal é um momento especial na SBPRP: praticamente todos os membros da SBPRP, desde aqueles colegas em formação até os analistas didatas e funcionários colaboradores, participam ativamente, e com prazer, de cada evento. O trabalho em grupo é fundamental. Todos da SBPRP voltam-se com entusiasmo, e muita dedicação, à preparação da Bienal.
Atualmente existe uma Comissão Permanente de Trabalho que pensa, prepara e avalia cada Bienal. Como presidente, a tarefa maior é a articulação constante de cada comissão organizadora (geralmente são 11 comissões atuantes), além do acompanhamento de cada segmento: social, cultural, científico e financeiro. O trabalho de preparação inicia-se cerca de 18 meses antes da data do evento para que tudo aconteça dentro do bem receber característico da nossa Sociedade.
MARIA LUIZA: Qual a importância da participação institucional e como você pensa que essa participação pode ser estimulada?
SILVANA VASSIMON: A participação institucional é da maior importância para a manutenção da vitalidade da Instituição. Trata-se do que tem sido chamado o “4º. Eixo de Formação”: além da análise pessoal, supervisão e seminários teórico-clínicos, a vida institucional é que irá permitir a sobrevivência do grupo.
Temos refletido e discutido sobre a importância da implicação de cada colega na vida da Sociedade: deixar o modelo “papai e mamãe cuidam de tudo” e se responsabilizar por cada passo institucional, implicar-se nas decisões, ganhos e perdas, acreditar-se importante no grupo e saber-se ouvido com seriedade proporciona confiança nas relações e enseja estímulo para o desenvolvimento. Todos somos responsáveis!
A Comissão Vetores em Expansão tem-se voltado principalmente para a observação e reflexão das relações da SBPRP e junto com representantes da Diretoria, da Comissão de Ensino e representantes dos Membros, procura criar espaços de troca entre as diversas necessidades e expectativas do amplo grupo de membros participantes, dentro de uma perspectiva realista de aprimoramento.
A realização do primeiro Fórum de Discussão “A poética do coletivo” mostrou-se um caminho vigoroso para a ampliação dos meios de participação dos membros da SBPRP. Os convites para participação nos grupos de trabalhos e comissões também é uma forma de estímulo, onde cada colega pode descobrir sua mais efetiva forma de contribuição.
MARIA LUIZA: Levando em consideração o valor que a IPA tem dado ao trabalho de psicanalistas com a comunidade, gostaríamos que você contasse um pouco sobre as atividades desenvolvidas por nossa Sociedade com a comunidade. Qual a importância dessa relação e o que tem sido feito para estreitar ou reforçar esses laços?
SILVANA VASSIMON: Como dizia minha colega e mestra Lenise Azoubel, Psicanálise é Vida! Toda vez que nos afastamos da comunidade corremos o risco de nos recolhermos a padrões teóricos ultrapassados porque nos distanciamos do dinamismo da cultura e da sociedade em geral.
A Psicanálise deve, e precisa, ter sua participação no amplo espectro sócio-científico-cultural. Tem muito a contribuir. Trata-se de via de mão dupla: nos alimentamos da Cultura, das Artes, da Tecnologia (porque não?), das descobertas científicas, mas também podemos contribuir de forma efetiva com o ser humano em sociedade. Não apenas na intimidade do consultório.
A IPA (International Psychoanalitycal Association), da qual a SBPRP faz parte, conscientiza-se de que precisamos da inserção na comunidade para tornar a Psicanálise útil nas mais diversas situações de vida, além de precisarmos da comunidade para a própria preservação da Psicanálise como método confiável terapêutico e de pesquisa da vida mental. A segregação da Psicanálise a um grupo científico imutável significaria, inevitavelmente, sua condenação à marginalização e obsoletismo.
Na SBPRP, este olhar para a comunidade se fez presente sempre com a formação de grupos voltados para o estudo e a realização de eventos que articulassem a Psicanálise com outros criativos grupos de trabalho, em diversas áreas: Arte, Cultura, Literatura, Educação, Especializações profissionais, Justiça, Ambulatórios de Saúde, Cinema, Teatro, Música. Temos uma Diretoria de Comunidade e Cultura, para citar apenas uma, que reúne cerca de 6 Comissões voltadas para o intercâmbio com a comunidade e o meio acadêmico/saúde. A promoção de grupos de estudos e supervisões com profissionais e estudantes, além da realização de eventos em parceria com a comunidade, são algumas das demonstrações do quanto esta inserção da Psicanálise na Cultura é fértil, bem-vinda e necessária. Trabalho vigoroso e fundante de uma Psicanálise viva.
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