Habitualmente se considera o migrante como alguém que se desloca de um país a outro por vontade própria. O interesse pela descoberta e pela aventura, a idealização do novo, a busca por uma vida melhor, a ambição da conquista e a curiosidade pelas diferenças são aspectos frequentemente encontrados nos relatos de migrantes e seus familiares.
O migrante é movido por uma escolha (mesmo que a consideremos inconsciente), já o refugiado é compelido por outras razões. A violência – presente ou iminente – são aspectos indissociáveis de sua travessia. Ele se desloca para se preservar ou para salvar seus entes, protegendo-se de algum tipo de violência, catástrofe ou perseguição.
Suas histórias guardam semelhanças mas o pano de fundo objetivo e subjetivo, as circunstâncias que envolvem suas jornadas (literais e emocionais), diferem significativamente.
O migrante pode sonhar com algo melhor, o refugiado luta primordialmente pela sobrevivência, inclusive quando se desloca dentro de um mesmo país, fugindo da miséria ou de desastres ecológicos, como no caso de Belo Monte.
Somos herdeiros diretos de refugiados, tanto por sermos brasileiros e habitarmos uma terra que recebeu expatriados do mundo todo, quanto por conta de nossas relações com a Psicanálise.
Lembremos que Freud deixou Viena para escapar da perseguição implacável dos nazistas, que alcançou tragicamente a alguns de seus familiares mais queridos. Freud sobreviveu graças à hospitalidade de outro país. A perseguição que sofreu não foi um caso isolado. A psicanálise segue viva e relevante graças à coragem e à vontade de viver de muitos de nossos colegas refugiados.
Mas, e quando isso se dá intimamente? É possível ser refugiado em si mesmo? O que ocorre quando aquilo que nos ameaça é parte indissociável de quem somos? Para onde fugir quando o algoz nos encara no espelho?
Para conversarmos sobre essas e outras questões, a Bienal de Psicanálise convidou Monica Guimarães Teixeira do Amaral, psicanalista e professora Livre-Docente da FEUSP e Christian Dunker, psicanalista, professor titular e Livre-Docente do IPUSP. Nosso encontro será precedido pela exibição do documentário “O som das palafitas” e pelas considerações de um de seus realizadores: André Domingos Pingo. Estaremos juntos no próximo dia 05 de março às sete e meia da noite na mesa: “Refugiados dentro do próprio país: catástrofes ambientais, sociais e psíquicas”.


Sejam muito bem-vindos, venham de onde vierem.
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Até lá.
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