Dando continuidade à V Bienal de Psicanálise e Cultura da SBPRP, no dia 06 de março, às 10h, teremos a oportunidade de conversar sobre Ideias para adiar o fim do mundo com nossos convidados, Ailton Krenak e Sergio Lewkowicz.
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O tema dessa atividade científico-cultural, Ideias para adiar o fim do mundo¹, é também o título de uma das obras de Ailton Krenak e tem como proposta trazer para dentro do universo psicanalítico a vivência concreta de Ailton junto ao seu povo, que há mais de 500 anos resiste a um mundo em colapso. Sua sabedoria, advinda de sua capacidade de pensar e de encontrar recursos materiais e subjetivos para manter sua cultura, seus costumes e suas referências mais profundas de ligação com o outro, nos inspira a refletir sobre o colapso a que poderemos chegar com nossa ideia de civilização, de “humanidade esclarecida”, cujas escolhas nos têm conduzido ao atual estado de emergência climática, marca do Antropoceno que muitos ainda insistem em negar.
Podemos dizer que o “fim do mundo” é algo com que os habitantes originais desta terra vêm tendo que lidar desde a chegada dos primeiros europeus e que atravessa toda a história brasileira, agravando-se com as recentes mudanças políticas que colocaram as comunidades indígenas na mira de um projeto de aniquilamento. Além disso, o rompimento da barragem do Fundão – crime ambiental das multinacionais Vale e BHP Billington – que, em novembro de 2015, lançou toneladas de lama tóxica no leito do Rio Doce, atingiu diretamente o território ancestral dos Krenak, colocando-os, nas palavras do autor, “na real condição de um mundo que acabou” (p.42).

Ailton Krenak é um líder indígena, ambientalista, ativista e escritor brasileiro, nascido na região do vale do Rio Doce (MG). Seu importante papel como líder político e intelectual inicia-se no final da década de 1970 e segue intensamente, especialmente neste momento em que as ofensivas contra os povos indígenas aumentam e ameaçam cada vez mais o seu direito de existência.
Com seu marcante talento para expressar o que tem a nos dizer, desde sua impactante performance durante a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987 – quando pintou o rosto com tinta de jenipapo enquanto discursava pelos direitos dos povos indígenas – Ailton tem se destacado como um dos mais importantes pensadores brasileiros, tendo recebido no ano passado o Prêmio Juca Pato de Intelectual do ano.
Entre os temas abordados por Ailton Krenak, destaca-se seu profundo respeito pela natureza, pelas diferenças e pela subjetividade. Ailton critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma humanidade descolada desse organismo que é a Terra, que “suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos” (p. 22) e que transforma cidadãos em consumidores.

Também contaremos com a participação de Sergio Lewkowicz, psicanalista, membro efetivo e analista didata da SPPA (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre). Além de seu intenso e fértil trabalho clínico e institucional, Sergio Lewkowicz tem se empenhado no esforço de aproximar a psicanálise da comunidade e de pensar as questões do nosso tempo, trazendo para o debate uma perspectiva psicanalítica sobre temas fundamentais da nossa sociedade.
Sergio foi Coordenador Científico da FEPAL (Federação Psicanalítica da América Latina) e do XXX Congresso Latino-Americano de Psicanálise realizado em Buenos Aires em 2014; membro do Comitê de Programa do 43° Congresso Internacional de Psicanálise da IPA (Associação Psicanalítica Internacional) realizado em New Orleans em 2004, onde foi o debatedor da plenária dos trabalhos pré-publicados. Foi também membro do comitê de publicações da IPA de 2001 a 2009 e representante latino-americano no Board da IPA de 2015 a 2019, além de vice-editor latino-americano e atualmente membro do conselho editorial do International Journal of Psychoanalysis. É professor e supervisor do curso de psicoterapia de orientação psicanalítica do Departamento de Psiquiatria da UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem várias publicações sobre técnica psicanalítica e psicanálise e diversidade sexual.
Que este encontro seja a oportunidade de atravessarmos fronteiras e transitarmos em territórios que estão além do que estamos habituados. Que nos abra a possibilidade, como propõe Viveiros de Castro, não de pensar como os índios² – o que não seria possível – mas de pensar com os índios e assim, quem sabe, aprofundar nosso compromisso com a vida em todas as suas formas.
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¹ KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo, Editora Schwarcz S.A (Companhia das Letras), 2019.
² VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Ubu Editora, n-1ediçoes, 2018.
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