À minha querida Martha Ribeiro
Em nossa última conversa ela me disse: “Eu sei que vou sair, ainda estou no pico da doença, mas eu sei que vai passar, tudo vai passar, eu sinto que vou sair dessa, meu amigo!”
Sua voz, apesar do esforço que estava empreendendo para sustentar sua luta com a doença, era doce como sempre senti em nossos encontros e conversas e expressava, mesmo em sua dor e angústia, a pessoa amorosa, cuidadosa que me acolheu desde o início da minha chegada a essa cidade. Eu podia sentir que naquele momento apesar da sua dor e apreensão ela ainda me estendia os braços me acolhendo e me confortando, mais que a si mesma! Pois as suas palavras eram um apelo de quem estava em uma travessia tão dolorosa e também um acolhimento à minha angústia e apreensão.
Termina me dizendo carinhosamente “Meu presidente!”
Pois desde quando nos encontramos e compartilhamos tantos momentos trabalhando juntos em diferentes funções, ela me estimulava e amparava afetivamente e com sabedoria a minha trajetória em nossa Sociedade e em meus movimentos pessoais aqui em Ribeirão Preto.
Tive a oportunidade de compartilhar com a minha querida Martha tantos momentos de intimidade, de alegrias, angústias e dúvidas e nos ampararmos em nossa amizade e parceria, olhando para a vida comum, nossos filhos e nossas funções e pude apreender com profundidade a pessoa humana, honesta, amorosa e sensível que me oferecia sua generosidade e o seu olhar.
Ela era uma pessoa rara, dessas que podem usar suas vulnerabilidades e apreensões como funções e registros que permitiam localizar amorosamente o outro. Era capaz de farejar profundamente a alma humana e se deixar impactar pelos vales, florestas, buracos, vulcões e todos os entes, demônios e anjos que nos habitam e em meio às turbulências da vida e nos dizer: Vai passar, tudo vai passar!
Seu olhar de combatente no front das dores insuportáveis da condição humana nos apontava em direção à tolerância e o aguardar as evidências de um próximo momento em que a vida poderia florescer novamente.
“Eu sei que vou sair dessa, meu amigo” foi a última mensagem que me enviou conduzindo meu olhar para esse próximo momento onde poderíamos nos encontrar e nos abraçar novamente e comemorar a vida.
Em meu último áudio, enviei a ela meu abraço e meu grito, dizendo que sabia que ela estava no front da doença lutando arduamente e que estávamos juntos nessa luta e que tivesse ânimo para sustentar mais essa travessia que a vida lhe propunha. Não sei se ela ouviu essa minha mensagem, mas agora ela continua ecoando em minha mente e compartilho com todos que puderam usufruir da companhia da Martha e da sua capacidade de luta e resiliência frente aos embates da vida: Ânimo, estamos juntos, nos encontramos no próximo momento!
Ao Paulo Pai, minha profunda solidariedade e ao Fernando, ao Paulo Ribeiro, Júlio e Léo meu abraço afetivo e meu coração de pai e de amigo nesse momento de dor.
Miguel Marques,
Presidente da SBPRP.

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