Quão profundo é necessário ir para encontrarmos a infertilidade de nossas mentes? A poesia, a pintura e a arte nos dão as mãos para mergulharmos na secura e no pavor que habitam as profundezas obscuras de nossas almas. Quantos acidentes e fraturas nossa mente já sofreu desde que nascemos? São com essas provocações/convocações que o Blog da Sociedade convida o leitor para mergulhar nas entranhas do terror vivido através da poesia “𝗔𝗿𝗶𝗱𝗲𝘇”, da psicanalista da SBPRP Maruzza Tereza Cerchi Borges Fonseca e das pinceladas da Fernanda Souza Leão, membro Filiado da SPRJ

Pinceladas de Fernanda Souza Leão, membro Filiado da SPRJ

.

Aridez

Dormiu querendo esquecer

Não fosse aquela esparramada poça de sangue,
Vermelha e vívida logo ao amanhecer.
Aquela,
Cruel poça de sangue.
Se não fosse por ela,
Seus planos, talvez, se realizariam.

As companheiras matinais de cantoria,
Naquela manhã, não entoavam o coro afinado habitual:

– Tô fraca! Tô fraca!
Já se sabiam fracas e vulneráveis!
Pairava apenas um cinzento silêncio.

Circulavam dispersas e atormentadas.
Algumas,
Andavam em volta das entranhas da amiga recém-atropelada.
Outras,
Sem graça, fingiam nada ter acontecido.

E eu,
Ainda sob o impacto da última noite,
Procuro lavar do árido chão da memória,
As manchas entranhadas do terror vivido.

Maruzza Cerchi