Neste mês de março, em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres, fizemos uma pequena enquete com psicanalistas de nossa Sociedade sobre dicas cinematográficas e literárias relacionadas ao tema. Thais Helena Thomé Marques, Mércia Maranhão Fagundes, Maria Luiza Soares Ferreira Borges e Miguel Marques nos deram algumas dicas inspiradoras.
Thais Helena Thomé Marques:
Filme “Eu, Daniel Blake”
Recentemente assisti um filme apaixonante no Cine Reserva Cultural, na Av. Paulista, “Eu, Daniel Blake”, que teve muitas indicações a prêmios e foi o vencedor como Melhor Filme Britânico pela Empire Awards e recebeu a Palma de Ouro em Cannes.
O filme fala de Blake, um homem maduro e viúvo, que tem por volta de 60 anos e luta para manter seus benefícios financeiros do Estado, uma vez que está impedido de trabalhar por motivos de doença. Ao mesmo tempo, esse homem desenvolve laços profundamente afetivos com uma linda jovem mulher abandonada por dois maridos, a qual também luta para sustentar dois filhos.
Blake é um sujeito que observou o processo de mudança do mundo à sua volta e não conseguiu se adaptar, mas, por outro lado, é capaz de produzir vínculos e mantê-los, de se sensibilizar e oferecer ajuda diante das injustiças. Isso fica claro quando ele abre as portas da solidariedade a uma jovem mãe que se vê obrigada a buscar ajuda no interior da Inglaterra com seus filhos porque o governo não ofereceu a ela nenhuma outra opção de moradia em Londres.
O filme nos apresenta uma mulher bonita e jovem, exemplo de um grupo social que, desamparado, não tem emprego, nem tempo para se dedicar aos estudos e, assim, procurar empregos melhores, uma realidade do nosso momento.
Livros de Elena Ferrante
Quanto à literatura, indico Elena Ferrante, uma autora italiana que tem livros publicados no Brasil. Todas suas protagonistas são mulheres, todas as histórias são narradas em primeira pessoa e refletem sobre temas como identidade, casamento, maternidade, vida profissional e muitos conflitos internos que questionam o contraponto da expectativa cultural e do desejo feminino.
Elena Ferrante é o pseudônimo de uma escritora italiana, que mantém em segredo a sua identidade. Concede poucas entrevistas, todas elas por escrito e intermediadas pelos suas editoras italianas.
Livros:
“A amiga genial” (primeiro volume da tetralogia napolitana), “A filha perdida”, “Dias de abandono” e “Um amor incômodo”.
Mércia Maranhão Fagundes:
Aproveitando o mês do já consagrado Dia das Mulheres, recomendo alguns momentos em que cineastas e escritores se dedicam a ela.
Filme “Olmo e a gaivota”
Um documentário imperdível, no qual o diretor visita a alma de uma mulher contemporânea que se prepara para sua realização maior: ser mãe. Uma visão sensível a respeito das vicissitudes de uma gravidez. Posteriormente, um grupo de artistas, inspirado neste documentário, publicou um vídeo no YouTube que complementa e muito o documentário: “Meu corpo, minhas regras”.
Livro “Crônica de uma vida de mulher”
Livro escrito pelo médico e escritor contemporâneo de Freud, Arthur Schnitzler, em 1928, três anos antes de sua morte. Obra dotada de intensidade psicológica. Um belo esboço da solidão feminina, em uma tensão social, ética e moral. A sensibilidade desse homem já amadurecido conhece e reconhece o interior de uma mulher.
Maria Luiza Soares Ferreira Borges
No mês dedicado às mulheres, aqui vão as dicas:
Filme “Hidden figures – Estrelas além do Tempo”
Drama biográfico dirigido por Theodore Melfi baseado no livro não ficcional “Hidden Figures”, escrito por Margot Lee Shetterly, que relata histórias de mulheres matemáticas afro americanas que trabalharam na NASA em 1961 durante a corrida espacial, em plena Guerra Fria. O filme foi indicado ao Oscar por melhor fotografia, melhor roteiro adaptado e melhor atriz coadjuvante para Octavia Spencer, dentre outros prêmios.
Por que vale a pena assistir? Por retratar a segregação racial entre brancos e negros, o preconceito em relação ao trabalho e à capacidade intelectual das mulheres e sua árdua batalha para conquistá-los. Há uma elegância na forma como é ilustrada esta luta de mulheres negras, guerreiras, pioneiras em suas áreas de atuação buscando não se submeterem nem subjugarem suas capacidades a preconceitos vigentes, conquistando seus espaços através de incansáveis e hábeis esforços. Quantas figuras escondidas temos na história. Fica aqui uma questão que suscitou-me a pensar: quais seriam as mulheres escondidas na história da Psicanálise?
Livro “As Boas Mulheres da China”
A jornalista Xinran apresenta em forma de contos relatos de histórias de mulheres que colheu durante oito anos na tentativa de discutir questões femininas. São histórias dolorosas de opressão e de abandono, casamentos forçados, desilusões amorosas e violências na vida da mulher chinesa. A autora dá voz a mulheres silenciadas pela dor e opressão e revela a capacidade de resistência em meio ao grande sofrimento.
Livro “A terceira mulher – permanência e revolução do feminino”
O filósofo e pensador do individualismo contemporâneo, Gilles Lipovetsky, descreve três fases culturais da mulher. A primeira é: mulher reflexo da cultura judaico-cristã. A segunda, romanceada e idealizada na idade média. E a terceira mulher, indeterminada, fruto da invenção de si mesma, mas ainda presa a papeis tradicionais.
Miguel Marques
Livro “Homens imprudentemente poéticos”
Valter Hugo Mãe, poeta, artista plástico, vocalista e letrista da banda Governo conjuga disciplina e talento e é um dos mais importantes nomes da literatura portuguesa contemporânea. Seu novo livro “Homens imprudentemente poéticos”, antes de chegar à versão final, foi reescrito dezessete vezes e é um “tsunami literário”.
Essa obra literária tem por cenário a floresta dos suicidas no Japão, visitada pelo escritor na encosta do monte Fuji. O drama humano com toda sua dor, solidão e lutos é delineadora ao sabor de uma poesia encantadora e de uma profundidade assustadora.
Imagens poéticas belíssimas e impactantes: “O impossível é uma quantidade que excede o que nos falta”. Ele é um cuidador de palavras e nos mostra que as ideias são de extremidades indefinidas, a cada instante se expandem. Um livro para ler sem pressa e reler muitas vezes.
22 de março de 2017 at 00:27
Gostei das dicas , muito ûtil para um fim de semana na escolha de um filme . recomendo e aguardo as prõximas dicas
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3 de junho de 2017 at 15:04
COMO MULHER, AGRADEÇO AS DICAS.
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